LÍRIO PERFUMADO

Vejo-me morto.

Arrepios alucinantes me devoram.

Através duma tela côncava,

Sinto-me convexo em relação ao mundo.

Gritos espavoridos soam no éter.

Sinistras gargalhadas inundam o espaço

E eu numa horizontal mefítica

A esperar a inorgânica putrefação da carne.

Medonho palor inebria meus órgãos.

Percebo inúmeros batalhões de bactérias

A lambuzar-me a alma sedenta de vida,

Porém a morte erradicou-me a sobrevivência.

Vermes hediondos sugam-me, impiedosos.

A essas horas, meu corpo explode,

Implodindo a campa macabra que me cobre...

Estou, então, à mercê do céu aberto e límpido

E, os abutres, esvoaçantes, surgem na atmosfera,

Contemplando o que me resta de ideal alimento...

Brigam entre si, circundam-me as vísceras e,

Delas, para espanto seus, estranho olfato se faz no ar...

É um lírio perfumado que se exterioriza do coração...

Afinal, não pereci... Apenas sonhava pesadelos!

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 25/07/2020
Código do texto: T7016629
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