A Aranha
Bem me lembro, a nostalgia é tamanha!
Que me assombra como elucubração:
'Inda mancebo, presenciei a execução,
De uma pobre e belíssima aranha!
Era colossal, com um milhão de cílios,
Ligeira, medonha, parda e grostesca!
Nas costas, carregava uma centena de filhos,
E me ameaçava com a presa gigantesca!
Banhei-a em querosene, acendi a pederneira.
A luz da chama iluminava minha visão.
Ela queimou, se debatia no turvo clarão,
Morria. Sem nem mesmo merecer uma carneira!
Tanto se contorceu que jurei escutar sua agonia.
Se debatia, no entanto, brilhava como um lampião.
Eu a apreciei, enquanto sua vida se esvaia,
E hoje ainda a sinto queimar em meu coração!