Spiritus Tenebrarum
Era uma manhã demasiado soturna,
nuvens chorosas impediam
o aparecimento do astro-rei.
Foi naquela manhã melancólica
que eu ansiei sucumbir ao infindável inane.
Fitei-me no espelho e vislumbrei
um vão incomensurável nas janelas da minh’alma.
Os meus lábios, lívidos e trêmulos, sussurraram:
tu és bem-vindo, spiritus tenebrarum.
Subitamente, através da janela entreaberta,
um sopro glacial adentrou o meu quarto;
a brisa trouxe consigo uma enorme pena azeviche.
Vagarosamente, ela pousou em meu leito,
e um grasnar ensurdecedor encheu o recinto.
Naquele instante, eu pude compreender:
o ceifeiro não veio, mas enviou o seu leal mensageiro.