Memórias Sepulcrais
 
Do alto da abóbada de meu jazigo,
Contemplo em devaneio espectral,
A hora de não mais estar comigo,
Imerso na eterna névoa abissal.


Despedida da carne em tom onírico,
Que apodrece defenestrada do viver,
Existência relegada num esgar satírico,
Afaga lúdico o extinguir de meu sofrer.


Da tumba que emana o fogo-fátuo, eis!
O despojo que os vermes agora alimenta,
Em sua mente viva de poeta criou reis,
Que não mais coroam sua finda tormenta.


Sem memória, sem resquício de passado,
Resta o desvendar de pútrido mistério,
Não o entoar das trombetas em som alado,
Mas o jazer esquecido no ventre do cemitério.
 
 
 
Marcus Hemerly
Enviado por Marcus Hemerly em 15/04/2020
Reeditado em 15/04/2020
Código do texto: T6918176
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