Catharsis Funeris
Sentido ou sentimento, será devaneio?
Noturna sudorese que aos poucos me banha,
Lava, não a alma torpe em que me esteio,
Leva a trama íntima que erige e assanha.
Tremo sem a ventania, ululo irado no calor,
Que brota interno do amor agora perdido,
Traveste-se de afago mas é vivaz a dor,
Que carrego no átrio já esquecido.
Façanha mórbida o olvidar da musa,
Companhia etérea, airosa e manente,
Dá-me o colo em confiança que abusa!
Voluntaria a indulgência do bardo descrente.
Na solitude, me invade devaneio romântico,
Na tinta, entrego-o em impulso necromântico,
Quando o sofrer se amálgama à salacidade,
Confunde, amarga, o que é desejo e saudade.