Quarentena
Dias sombrios que me abraçam,
Me deixam aqui a suspirar suave,
A ouvir nas trevas de meu sossego
O sussurro dessa loucura que
Se abate como dilúvio sobre nossa
Agora decaída raça, fulminando
No isolamento, deixando a bestial
Marca que me acolhe nesse momento
De tormenta em que me acolho
Nessa falsa paz passageira
Que vivemos.
Nesse tempo, de indefinida duração,
Abraçada nessa loucura que me
Ameaça com seu doce beijo,
Tento não me encantar com as sombras
Que me rodeiam, jogando por aqui
As ilusórias carícias que me correm
O rosto, roçando os macabros dedos
Na carne na promessa de dias
Cada vez mais sombrios que podem
Cair sobre mim, deixando ainda mais
Loucura a gritar no meio do vazio
Já instalado nesse mundo
Alquebrado por essa pandemia doentia.