SOLITÁRIA
Não, não falo do verme
Que me come por dentro...
Falo do meu espírito inerme,
Deste sentimento agourento,
Do meu sorriso enigmático,
Tão sintomático de solidão...
Visto o meu disfarce diário,
Planto um olhar extraordinário
De quem tem sempre companhia,
Mas tenho a alma vazia,
Preenchida tão somente de poesia,
Dos meus pensamentos efervescentes,
E permanentes, que até parecem gente
Habitando minha cabeça...
(Por incrível que pareça,
Sussurram poemas pra mim)
Um número de personagens sem fim
Que figuram em meus escritos,
Esses malditos...
Será que em meu enterro alguns virão,
Para enterrarem também suas culpas...
Para me pedirem desculpas
Pelo abandono, pela ingratidão,
Pela aflição que me causaram?
Será que em outro plano,
Quando cair o pano,
Após o último ato da minha vida,
Sentir-me-ei querida
E terei novas companhias,
Além da música triste de um piano,
Dos meus livros, dos meus desenganos
E dos pobres versos das minhas reles poesias?
Ouvindo Eleanor Rigby / Julia
https://youtu.be/D_oWp7PRO44
Paul McCartney - Eleanor Rigby - (1983) Tradução
https://youtu.be/lAIoYy8b7bw