Sangue...

Titubeia coração,

Titubeia sem direção

As margens do caminho das trevas...

Cansado,

Perdido no perdão

Convicto da derrota

Destituído de emoção...

Vai,

Mergulha no sangue

Na vertente esquerda do meu peito

Na antítese da angústia

Devasta o corpo...

O insistente sopro da emoção

Calado,

Perplexo com o nada

Com tudo que é obscuro e fatal

Penetra na alma

Despe os demônios

Reflete sem espelhos

Morte, cheiro de morte

De foices esquálidas

De medo sem motivo

Dos motivos para se temer...

Treme,

Relaxa em sua angústia

Sorve cada gota

Cada pedaço do eu mesmo

Do tudo, do pouco que resta

Sem restar um sentido

Sem querer respirar...

Poças,

Formadas por gotas de sangue

Pelo anseio que transpirei

Pela lua, pelas sombras

Noturnas e derradeiras

Abraça a sepultura

Faz dela seu lar

Refúgio da minha, da sua miséria

Lar dos sonhos

Recanto dos pesadelos

Dos minutos que passam

Dos segundos que tropeçam

Dos infinitos e mortais instantes...

Rubro,

Escuro e seco

Na laje fria da desgraça

Na derrota dos séculos

Na impotência do passado

E em sua desolação, o futuro!

Casa minha,

Meu lar de desgraças

Meu cativeiro de desejos

Meu cárcere privado

Gostaria de lhe arremessar longe

Rompendo essa infeliz aliança

Tirando os adornos

Arrancando os elos de ouro

Despindo-me do orgulho

Para poder olhar para meu sangue...

Em minha poça de sangue

Um reflexo sombrio

Sem emoção

Sem dor

Sem sofrimento

Sem um pingo de vida

Sem voz

Sem desejos

Apenas uma poça opaca e seca de sangue

Apenas um mar morto

Um recanto sem vida...

Omnia idem pulvis

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 18/02/2020
Reeditado em 18/02/2020
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