A chuva

Outros que falaram da chuva e seu emblema.

Por nada mais ser emblemático que

a chuva

e a voz

do outro.

Temo que a chuva leva um terço de mim

e o terço inútil dos adros sacrílegos.

Sacrilégio,

um ato que se esvai

na tempestade.

O outro

a voz

a chuva.

Abuso-me

esvaio-me

sentencio-me

no decorrer de uma enxurrada

onde minha máscara se foi,

onde meu carnaval se entende.

Não há saída-fluxo.

A filosofia barata

jogada fora

e o respingo inunda meu

ouvido.

Não ouço voz

não sei do outro.

Mas a chuva,

a chuva despenca

e o estado é outro.

Não há felicidade

é certo.

Não há o que espero

é sempre.

Minha carne é tão podre

que a chuva não cabe.

O barulho de melancolia

não exige científicas pesquisas

e cortinas cinzas.

Lá no cemitério, que é cama

macia,

a chuva apagou as velas

do antepassado.

Trilha sonora do pobre

do sensível iconoclasta

do bêbado utópico.

Evaporou o caos

evaporou o deus

evaporou o último símbolo.

Gleidson Riff
Enviado por Gleidson Riff em 10/02/2020
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