A chuva
Outros que falaram da chuva e seu emblema.
Por nada mais ser emblemático que
a chuva
e a voz
do outro.
Temo que a chuva leva um terço de mim
e o terço inútil dos adros sacrílegos.
Sacrilégio,
um ato que se esvai
na tempestade.
O outro
a voz
a chuva.
Abuso-me
esvaio-me
sentencio-me
no decorrer de uma enxurrada
onde minha máscara se foi,
onde meu carnaval se entende.
Não há saída-fluxo.
A filosofia barata
jogada fora
e o respingo inunda meu
ouvido.
Não ouço voz
não sei do outro.
Mas a chuva,
a chuva despenca
e o estado é outro.
Não há felicidade
é certo.
Não há o que espero
é sempre.
Minha carne é tão podre
que a chuva não cabe.
O barulho de melancolia
não exige científicas pesquisas
e cortinas cinzas.
Lá no cemitério, que é cama
macia,
a chuva apagou as velas
do antepassado.
Trilha sonora do pobre
do sensível iconoclasta
do bêbado utópico.
Evaporou o caos
evaporou o deus
evaporou o último símbolo.