Gotas Rubras
Olhe!
Veja meu sangue
Mergulhe nas profundezas dos meus olhos
Ou nas chamas do meu coração
Mas veja profundamente dentro de mim…
Cruzei os séculos por fios de navalhas
Mas não derramei meu sangue por nada
E por tudo sangrei até a última gota…
Sem interesses, sem saber calar um não
Por mim e pela vida que resta a viver,
Mesmo nunca vivendo...
Perambulando pela farsa egoísta do mundo
Sem pena, sem rancor de mim…
Vislumbrando a cor púrpura do meu sangue
Rindo da espada transpassada em meu peito
Mas queimando em fogo vivo a lágrima vertida…
Então venha, olhe em meus olhos,
Toque em minhas chagas
Em minhas mágoas apagadas pelo vento
Arranque do meu peito o meu coração
E mastigue com sua ira turbulenta o meu bocado de vida
Pois só você mortal, só você sabe enganar…
Mas sem querer te iludir,
Eu sempre soube de tudo!
Mas venha, venha mansamente,
Venha pelas portas dos fundos
Abra a janela e acompanhe a lua
Veja seu desenho fantasmagórico bailando pela noite
E cale seu assombro, porque não é lícito gritar
Não deve fazer alarde sobre a morte
Deve apenas sentir seu cheiro e pegar em sua mão
E vai em seu encalço, pois dela depende…
Depende deste olhar que dirigido a mim,
Transcende o tempo e mergulha na noite
Mas devagar, não se afobe…
Com certeza ela te alcançará!!!
Minha pequena Pandora, venha!
É hora de ceder seu corpo ao seio da mãe Terra…
Pois a Terra é um grande útero…
Um abrigo quente que serve de morada
Ela cedeu seus campos para os seus passos
Ela lhe deu seus frutos e assim te fortaleceu
Mas é hora de verter seu sangue…
É hora de partir de braços abertos
Toque o punhal ou prove do veneno doce
Mas vá!
É hora de dormir por um século…