Onde Está a Alma de Alice? — Poesia de Terror.
"Se parar eu vomito".
O Corvo; Rogério Skylab.
Ele via seu avô cuidar dos insetos
Que jaziam empalhados na salinha,
Em prateleiras, espalhados retos.
— Por que não vai procurar sua irmãzinha? —
Pergunta o avô a esse seu neto.
— Pouco me importo — Disse a criança.
— Gosto mais dos insetos —;
Estavam totalmente parados, isso ele notava.
O porquê ele já não sabia,
Todo inseto fora da salinha, vivo estava,
E daqueles lá dentro, nenhum se mexia.
— Por que, vovô? — Ele perguntava.
Por que nenhum se mexia?
"Falar em morrer é pesado demais"
Pensava o avô, que prosseguia,
"Usarei palavras mais casuais"
— Perderam a alma — O avô respondia.
Alma. Que coisa estranha! Onde já se viu tal material?
(A criança nunca tinha visto uma "alma",
Nunca viu espírito, fantasma ou coisa tal.)
Mas sabia a criança, o avô lhe contara:
"O que dá vida ao corpo é a alma!"
Então passou a procurar:
Onde está a alma desse sofá?
Notou que não há alma naquilo que não vive.
Essa criança curiosa insiste
Em essa tal de "alma" procurar.
Onde está a alma do inseto? — Se perguntou.
Então uma aranha matou.
"Por todo o corpo!" Ele notou.
Onde está a alma do meu cachorro? — Se perguntou.
Bateu, bateu e não adiantou,
Exceto pelo golpe derradeiro
"Ah! Se tivesse batido na cabeça primeiro!"
E continuou.
A alma é qualquer coisa que faz viver, ele pensava
Fosse nos gânglios dos insetos,
Fosse nos animais e em seus cérebros
A alma lá estava!
Então lhe restara uma última pergunta incerta:
"Onde que a alma humana
Pode ser encontrada?!"
E procurou.
"Alice, alice!" — Foi o nome que chamou.
Com o cachorrinho aprendeu, isso é fato,
E dessa vez não faria nada de errado.
"Vou começar na cabeça" — logo pensou.
Alice era maior que o cachorro
Uma faca não iria adiantar
"O picador de gelo!" — Pensou absorto —
"É isso o que vou usar!"
E como brincadeira, desferiu a incisão.
Derradeira. Alice sequer chorou.
Estava pálida. "Já morta" — ele notou.
Ali não batia nenhum coração!
A lobotomia, quem diria, teve resultado!
A alma de Alice estava mesmo na cabeça.
E foi assim que a criança teve tanta certeza,
De que todo animal pode ser assassinado!