Mourning
(Sobre pesadelos)
Versos transpassados correm nas areias do tempo,
Visões de móveis de madeira em uma soturna e mística mansão.
Um peso no coração...
Dores inatas de opressões na alma,
Uma única cena, um coração gelado a ser mutilado por um ato.
A sensação de ser um turbilhão de ventos enfurecidos ao redor do lugar;
Sem uma só vela no escuro para guiar um caminho mudo.
Selvagem melancolia... Por dentro me destrói e me mata.
Ao observar velhos pertences de uma moça a muito já morta, seus cabelos já pulseiras e colares eram.
Sua estampa no retrato envelhecido é tão idêntica a minha própria.
No peito ainda sinto a dor daquele assassinato, a incógnita do que sou,
Seus parentes por certo um longo luto emolduraram.
Seus trajes, seus objetos e adornos permanecem intactos,
Seus escritos ainda estendidos na mesa, com a única caneta
Que derramou a última gota de tinta do que era a alma...
O passar dos anos dolorosos ornamentaram a morte.
E nessa casa fria e mórbida durmo no seu quarto, vejo seu passado,
Esses longos cabelos negros que perturbam minha mente, roubam meu sono.
Fixados na parede decrépita, no retrato acinzentado esses olhos me fitam;
Selados numa fotografia adentram meus sonhos acordados.
Vi, senti e vivi o peso que não quis entender.
Vertigens, uma sensação sem fim martelando-me calafrios na pele.
Nem mesmo a lua adentrava uma faísca que fosse pela janela;
Aqueles olhos eram o brilho...
Como acordar de um pesadelo numa vida longínqua?
Em um tempo valioso demais para ser esquecido e doloroso demais para ser lembrado?
Os vestidos umbrosos, os véus que encobriam os lúgubres olhos.
Tudo incumbido no sangue destas veias...
Correndo a maldição de riquezas perdidas,
Como uma botija encantada por maus agouros.