VAGANDO
Saí discretamente do meu corpo
A vagar pelas covas da necrópole
Cidade morta e às escuras
Verdadeira metrópole
De múmias frias e duras.
Pensei: quantas lindas criaturas!
Inertes, sem vida, sem cura.
Tantos amores devolvidos ao pó
E na escuridão guardados, só.
Então, voltei à carne,
E antes que ao breu me escarne
O farei brilhar
Até o dia que essa luz se apagar.
Lembro-me do silêncio profundo
Desse triste mundo
Dos corpos um dia vivos,
Mas que ali passivos
Emudecidos
E embrulhados na escuridão.
Visão assustadora,
Mas enriquecedora,
Pois retornei apressado
Analisando o passado
E determinado
A melhorar o presente.
Ênio Azevedo