DO CORPO E O FARDO

Eu gosto de me olhar no espelho. Mas não para me sentir bonito. Mas para me entender. Gosto de olhar o formato do meu nariz, o contorno dos olhos. Eu gosto de me perceber. Lembrar que eu existo, que ocupo um espaço no mundo. Será que o que eu vejo é o mesmo que você vê?

Ele olhava no espelho com aquele olhar de odisseia

Olhava pro nariz

Lembrava da traqueia

Imaginando suas tripas se formando em carne

Moldando sua estrutura

Como se fosse mármore

Mergulhando em sua retina

Rotina mórbida

Se reconhecia em recomeços

Como se estivesse em órbita

Não é noção de estética

Estéstica(mente)

É olhar e se ver

Mesmo que assim, de repente

Foi dado o óbito

Do corpo e o fardo

Já não espero mais

Aquele óbvio atraso

Reflexo e reflexão

Mirando esta miragem

Será que sou ou não?

Entre o estar aqui e o não estar agora

Onde o gomo da boca se confunde

A imagem se dissolve

É que agora virei neblina

Só o vento me move.

MIHELL
Enviado por MIHELL em 11/06/2019
Código do texto: T6670455
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