DO CORPO E O FARDO
Eu gosto de me olhar no espelho. Mas não para me sentir bonito. Mas para me entender. Gosto de olhar o formato do meu nariz, o contorno dos olhos. Eu gosto de me perceber. Lembrar que eu existo, que ocupo um espaço no mundo. Será que o que eu vejo é o mesmo que você vê?
Ele olhava no espelho com aquele olhar de odisseia
Olhava pro nariz
Lembrava da traqueia
Imaginando suas tripas se formando em carne
Moldando sua estrutura
Como se fosse mármore
Mergulhando em sua retina
Rotina mórbida
Se reconhecia em recomeços
Como se estivesse em órbita
Não é noção de estética
Estéstica(mente)
É olhar e se ver
Mesmo que assim, de repente
Foi dado o óbito
Do corpo e o fardo
Já não espero mais
Aquele óbvio atraso
Reflexo e reflexão
Mirando esta miragem
Será que sou ou não?
Entre o estar aqui e o não estar agora
Onde o gomo da boca se confunde
A imagem se dissolve
É que agora virei neblina
Só o vento me move.