A DAMA SOMBRIA

A DAMA SOMBRIA

Regina ali caída aos pés daquele velho portão.

Portão duplo, enrijecido, fazendo até meus pulmões alternarem em fuga propensa.

Ela ali olhos fechados, pele tão branca quanto á neve recém caída da madrugada.

Que encontra os primeiros raios de um amanhecer tilintante.

Ouço vozes ao longe, corro, me escondo por detrás a uma densa folhagem seca pela ocasião.

Que privilégio em ser tão inocente quanto a um carneirinho.

Vejo ali ela se mexer.

Digo que espere a tropa passar.

Em pouquissimos minutos avisto ali de uma outra esquina a bandeira do terror.

Me lembro, não posso deixa-la ali.

Olho novamente e cadê minha amada fugitiva.

O som estridente dos passos cadenciados pela pequena tropa cessa.

Ando a pequenos passos, sorrateiro sempre me curvando diante a qualquer sombra ou coisa parecida.

Chego ao muro musical, assim o denomino por ser cheio de cifras musicais.

Dobro a esquina e fico pálido.

Um enorme instante de terror me toma o corpo.

Ali diante aqueles homens que claramente se mostram fortes diante a tantos exercícios.

Uma alimentação digna de um tigre.

Ela os despedaça como se fossem mero bonecos de guerra do empório do Seu Eliseu.

Chego a gritar, não dá tempo, sinto.

Sinto o cobrir de sangue quente em minhas vestes.

Regina os matou, tornou-se uma lívida máquina mortífera.

Aquele seu vestido azul celeste, nada ali o lembrara.

De repente o pânico me toma por algo mais forte, horripilante.

A minha amiga, de escola, de brincadeira, bailes e trolagens.

Se escaupela ali, arranca seus cabelos ao fio de um machado.

Tento correr, mais sinto o fino fio da vida ameaçar-se.

Sem forças caio no chão, olhos esbugalhados, boca a vomitar sangue.

Fui mais uma vítima desse crime sem criminosos.

Achei que ficaria ali, mais não, tive meu corpo reposicionado.

Para que pudesse ver o horror por completo.

Ela ali a degustar de órgãos e partes humanas.

Para meu fim, sou arrastado, quadras, kilometros até chegar á beira do córrego.

Neste sou banhado, já não sinto nada.

Vejo de perto meu corpo sendo levantado por ganchos, correntes.

Já não é mais Regina, há duas dezenas.

De incansáveis famintos por carne humana.

Se deixo as lembranças é para que sigam.

Pois meu caminho fora destroçado.

Ouço agora passos leves, voz firme porém branda.

Meu espaço já foi preparado em outro cenário.

Não quero chorar.

26042019................

paulo fogaça
Enviado por paulo fogaça em 27/04/2019
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