Dor e medo
Numa simplicidade angélica
Deixo morrer em meu peito
Toda a glória das lágrimas
Que, cálidas, se congelam no
Fundo de meu peito, afogado
Na dor insone de sentir alegria,
Aliviado pelo doce medo
De manter-me acordada nessas
Horas de insanos sonhos divinos.
Deixo correr nas veias a dor,
Como o veneno a me manter
Desperta, pra explodir em meus
Nervos o medo, doce prazer,
De me ver levitando no calor
Dos instantes velados, dormentes,
De medonha luxúria a me induzir
À plenitude de viver e amar.
Angelicamente dominada e presa
Numa corrente de dor e medo,
Sinto no ventre, infértil, a explosão
Selvagem da vida a nascer, sorrindo,
Com suas doridas lágrimas de alegria
A me abençoar sombriamente
Pelo abraço da eternidade.