Os Corvos

Gritos de socorro silenciados

Nos suaves cortes na carne

Buscando carinho

Buscando caminhos

Querendo aceitação

Querendo interpretação.

Não pertenço ao mundo

Ao mundo que me deram

Nasci no tempo errado

O tempo é impaciente

E não gosta de improvisos

Já fiz rabiscos nos muros

E em páginas rasgadas

Que só entendem os letrados

Na escuridão.

Um luto bem vivo

Com minhas roupas escuras

Que são meu casulo.

Um luto mais vivo

Do que o eu aprisionado

Alimentados por músicas

E literatura mórbida

O que são corvos?

São apenas pássaros.

Vivo em duas casas diferentes

Mas me perco em todo esse labirinto

Não quero escolhas nem permuta

Quando nasci nunca queria ser borboleta

Só quero voar com minhas penas negras de corvo.

Gosto do alimento com parasitas e insetos

Gosto mais do errado do que do certo

Que para todos são uma mesma coisa.

Só quero voar como um corvo

Na vastidão do céu negro da noite.

Não quero acordar dos meus versos.

Henrique Rodrigues Soares