Casa Assombrada
Ouço a porta abrir
Mas a música estrondosa que vem da calmaria
Que parece passos de alguém que não caminha
Interrompe-me o culto da sedentariedade
As paredes ganham movimentos
As lâmpadas permanecem acesas após o corte eléctrico
E nunca mais voltam a acender depois do retorno da luz
Gargalhadas aleatórias de um ser ausente apavoram o calar da noite
A televisão apresenta o desastre do último apocalipse
Embora desligada
As rádios funcionam como telemóveis
E sou ameaçado através delas pelos espíritos dos tempos idos
A sala está alagada de sangue
À minha frente um rosto desfigurado
Clamando por clemência e castigo ao mesmo tempo
É a boneca da Annabelle acenando os cabelos eletrocutados
The Conjuring is here
Volto a olhar para o espelho já partido
Este reflecte os braços em chamas de Celas
Serva de Nosferatu Alucard, o conde da não-vida nem morte
Não me restam mais recursos
A mesa partiu-se ao meio e o frio convida-me p'ro vale da morte
Os ratos correm em dispersão, os gatos saltitam em busca de abrigo
Faltando apenas eu fazer alguma coisa, o resto do mundo
Sangue negro banha o tecto do jardim
As flores estão espinhadas
Chuvas azuis impedem o desarraigar desta era de monstros
Tudo ficou louco
Há formada uma barricada lá fora de zombies e gouls
Que empunham tridentes e ossos enferrujados
Mastigam areia e bebem terra lamacenta
Embora enfezados, sem conseguirem marcar um passo sequer
Tenho contactar o médium mais próximo que conheço
Entra uma carta pelos furos da parede
A informar que todo mundo está praticamente morto
Inclusive eu...
Observo uma inopinada quimera
O gaguejar dos ponteiros do relógio meu ainda funcional
Transmite-me o alerta de que é tudo crendice
Que é tudo ilusão.