Filhos das sombras
Uma parte de mim entrevê
Toda a maré de escuridão
Em que estamos submersos,
Outra parte tenta não se afogar
Na luz que, sombria, nos rodeia,
Num abraço de viva morte que
Nos abarca nos mais esquecidos
Recantos de nosso outrora adormecido
Âmago mais recôndido da alma.
Nos abençoando com a mais
Doce maldição existente, que
Faz de nós, almas mortas, os
Filhos das sombras que já somos
Desde que tocados pela suave
Mão calejada do destino,
Temos em nós mesmos
O ardor da morte no momento
Do parto nosso ao sentir
Na pele a amarga doçura
De toda a sombra que nos
Quebra a mente nos momentos
Em que sufocados ficamos
Pelo abraço da vida.