Canção da noite

Luar:

- Eu sou uma sombra eterna,

De uma praga à atrocidade

Dum furor da noite terna,

Ó sofrência! Ó realidade!

Sê langue e ainda me estremece,

Vai-te à audácia que padece.

Nos teus dentes mais rangidos,

Tens olhar sucíneo que ardes...

Teus desejos tão fedidos

Como um lobo vil que tardes.

Em loucura ao almejo sujo,

Com visceroptose intensa

Quando a cevas, nunca fujo

Ao teu cheiro forte, pensa.

Arranca-a à ânfora violenta,

Já o sabor cevado e puro,

Que há de horrorizá-la lenta...

Podes ser bastante duro.

Vais olhar a lua cheia?!

Uiva, uiva e uiva loucamente,

Se uma noite te norteia,

Tu serás feio e demente.

Se és unicamente mau

Ao presente de um horror,

Rangerás o velho pau

Com a raiva, é o desamor.

Com sabor visceroptótico

Do animal ao louco olhar

Em jantar monstruoso e gótico,

Vens cevá-lo e mastigar.

Uivarás a noite agora?!

Que sombria, que bonita...

Sou escuro assim, embora

Eu me sinta entre a ânsia aflita.

Bebe a dose sanguinária,

É pura, é árdega, é gostosa...

Duma taça funerária,

Que é craniana e saborosa,

Eis que a meia-noite acaba,

Vira nu que acorda e baba.

Lucas Munhoz

(05/12/2017)

Lucasmunhoz
Enviado por Lucasmunhoz em 06/12/2017
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