Evangelho das almas
Como em tantos olhares doces,
Ternamente vazios, trago aqui
Em meu ser as palavras leves
De um evangelho diabolicamente
Divino soprados em meus ouvidos
Calejados no silencioso acalanto
Dos gritos silenciosos pelas
Almas, vivas e mortas, que deslizam
Flutuantes ao meu redor, guiando
Meus rápidos passos vacilantes
Em direção ao meu sombrio destino.
Dormitando acordada ao relento
De meu aconchegante ventre seco,
Sigo mergulhando nas sombras
Em pregação de um quase esquecido
Evangelho de almas, acorrentada
Pelo prazer de sentir em meu já
Morto coração pulsante as cálidas
Batidas que ecoam os medonhos
Sussurros depositados em minhas
Veias, palavras outrora mortas
Na angústia de permamecer aqui
Ao renascer etéreo de minha
Carne a pulsar nesses versículos
Marcados a impulsionar o doce
Negrume de meu sangue dormido.