Flores mórbidas de uma poesia sobre morte
De passos em passos.
A paz entra por meu peito descarnado
A dor é aliviada
Com a calma da geada
O cheiro das rosas me entorpece
A coloração avermelhada me hipnotiza
Repousadas, com carinho
Sob esculturas negras angelicais
E de moribundos enfermos carnais
Fotografias e datas marcadas
Da luz nascente à escuridão decadente
Vejo sonhos encerrados
Momentos perdidos
E espíritos descansados.
Nas lápides, as lágrimas secaram.
As memórias, por mais que cravadas no mármore
Esquecidas, pelos que um dia, a cultivaram.
"E até que a morte os separe"
O equívoco mais comum
As almas dos velhos amados
Dançam pelos campos floridos
De mãos dadas, rindo dos que estão vivos.
O amor é o início, o amor é o fim.
Querida, não tema, te beijarei mesmo após todos os possíveis óbitos.
Pegarei na tua mão e fugiremos para sempre de nossos corpos
Nossas almas dançaram pelo cemitério
Celebrando a nova liberdade, a nova vida.
Afastada da monotonia, livre do tédio
Todas as flores, todas as rosas,
Serão suas.
Eu as apanharei com doçura
Às dúzias.
O homem desanimado me chama.
Eu fecho meu caderno.
Diz que está fechando o cemitério.
Dói, mais uma vez, ter de dar tchau ao meu pequeno império.
A noite, se entardecera demais.
Logo agora, para acabar com minha paz.
Pois então, deixo aqui minha poesia.
Onde meu velho corpo jaz.