A CURA

Eu não queria a morte
Mas ela veio sem ser chamada
Entrou sem bater à porta
Estuprou-me sem pudor
 
Eu não queria a morte
Mas ela se alojou em meu peito
Fez em mim a sua casa
Deu-me asas negras para voar
 
Eu não queria a morte
Mas ela me convenceu
Que há o outro lado
Caminhos sombrios são belos
Viver sóbrio nem sempre é a solução
 
Eu não queria a morte
Agora a morte é tudo em mim
O cemitério é meu jardim
Onde as flores murchas ou de plástico
Torna meu viver mais prático
Que pratos descartáveis
 
Eu não queria a morte
Mas agora que fui ao fundo
A morte é o meu mundo
E imundo, purifico as falsas alvuras
Dessa cidade maculada de loucuras
Eu não queria a morte
Antes de saber que a morte é cura


 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 21/11/2016
Reeditado em 21/11/2016
Código do texto: T5830493
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