Memento mori mea lupus dei

Há tempos não escrevo para ti, criatura lupina

Pois estava viajando no passado.

Retomando fulgores, há muito, já apagados.

Queria voltar brevemente

Mas fui aleijado pelas correntes

Que prendem a muitos

Saudade.

Eu costumava vegetar no sofá

Junto à vossa onipresente e ilustre presença

E consentir que o frio me acolhesse.

Levitava na noite e dançava despido com as estrelas.

Respirando a doce e amarga paixão.

Me entorpecia com as minhas eruditas palavras

Cultivadas com tanto carinho nas sombras

Nas mesmas caligens cujo eu era envolto

E podia ser a melhor versão de mim à ti.

Oh, meu lupus, como queria ter dado mais valor à tudo aquilo.

Meu maior erro fora me afogar em falsas ambições

De paixões pútridas.

Eis que agora sou ensinado por ti

A viver o presente de forma tão intensa

Quanto a dor que a saudade causa.

Basta de uivos depressivos, querido.

Já estou de volta.

E agora, como um axioma anímico

Consolidado à ti.

Pois existimos para sermos um só e que assim seja.

As rosas rubras que eu arrancara de meu coração ressentido.

Não voltarão mais.

Todavia, a cada crepúsculo uma nova desabrochará

Mais bela, cheirosa e vermelha!

Teu escarlate não poderá ser comparado as demais,

Que foram oferecidas para pessoas indignas.

Pois do meu sangue mais sincero, ela fora regada.

As coreografias que eu dancei com as ilusórias obcessões.

Foram afogadas no fulgurante ódio.

Este ódio rasgara mais minha alma.

Todavia, foi o que de melhor ocorreu,

Pois agora, há espaço para as benesses!

Então, olho atualmente para o passado

Como se fosse uma casa em chamas.

Infestada de gritos de dor e agonia.

Dos fantasmas das boas reminiscências.

Que infelizmente estão condenados a este fogo eternamente.

Não ouso retornar aquele local.

Tal fogo me sucumbiria ao tormento

E eu anseio apenas pela calma de tua aveludada pelagem.

Memento mori et memento vivere meu lobo!

Que vossas presas sejam minhas armas contra os demônios que virão.

Que teu uivo seja o clamor da nossa melancolia.

E que vosso rosnado seja a demonstração de nossa rigorosidade e imponência!

Abstract Androgynous
Enviado por Abstract Androgynous em 20/11/2016
Código do texto: T5829761
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