MELANCOLIA

Uma névoa de ilusões paira no ar

E me faz perceber

Que e felicidade e a plenitude

São fragrâncias muito raras de se encontrar...

Sinto plenamente a dor e a angustia de viver,

Embora minha sensibilidade aguçada

Seja o melhor que posso emanar de mim:

Com ela enriqueço de inspiração os meus versos

Imbuídos de ternura e compaixão

Com a dor inegável de tantas vidas inocentes.

Uma doce melancolia sussurra em meu íntimo,

Deixando aflorar tantos sentimentos

Conflituosos e inevitavelmente paradoxais...

A melancolia é uma água parada

De lembranças insípidas

E de expectativas malogradas;

Ainda que seja motivado

A sentir as ilusões da vaidade humana,

Não deixo de fazer florescer

Com certo entusiasmo

Os aromas amargosos e tristes

De meus versos inspirados

Nas penumbras de dias desoladores.

As ruas dessa metrópole ficaram vazias de repente,

Subsistindo apenas indigentes desemparados

No chão de uma fria cidade

Permeada de uma atmosfera densa e lúgubre...

Sinto um vazio que cresce a cada instante,

Pois os anos simplesmente se passaram

E nada de sólido e permanente nesse mundo se cristaliza,

Prevalescendo apenas as múltiplas recordações

E uma ânsia desesperada pela eternidade.

A juventude da vida

Escorre como blocos de gelo,

As suas espessas camadas

Vagarosamente se dissolvem,

Anunciando o escurecer desse longo dia

Que inesperadamente é envolvido

Pelo crepúsculo de uma doce nostalgia,

Desse dia que, mesmo fadado ao fim,

Ainda permanece embriagado

Pelas sonhos e euforias da mocidade.

Só o que resta é relembrar

Dos fragmentos do que foi vivido,

Dos fragmentos de uma era remota

Cheia de sorrisos, de alegrias e de entusiasmos...

Nesse rio impetuoso do devir,

O que posso guardar no meu coração

Senão todas as lembranças

Daqueles que estimei

E que já partiram no decorrer de suas vidas?

Só o que resta é clamar com voz rouca

Ao criador de todas as coisas

Que o amor volte a se fazer presente

No coração dos miseráveis e dos desamparados!

Revoltar-se: qual é o sentido de toda essa veemência?

Chorar um dia inteiro

É possível quando as lágrimas

Já secaram de meus olhos cansados?

Uma esperança mínima, a esperança da vida eterna,

É a única semente que germinou em meu ser!

O vento é frio, murmurando melancolicamente

O seu cântico repleto de lirismo...

Do inverno gemem almas adormecidas

Que só buscam amparo e consolo perenes,

Tamanha é a resignação a qual estão submetidos!

A atmosfera dessa metrópole

Está carregada de neblina...

E como as luzes são tênues!

Mas o que pode nos consolar

Nesse mundo degradado e flagelado

Por tantas doenças, fatalidades,

E, também, pelas iniquidades

Que rasgaram o véu da inocência e da pureza?

Nenhum farol ou lanterna criado por homens engenhosos

Foi trazido nesse cenário sem vida,

Só o que resta, então, é a candeia da misericórdia divinal,

Pois não é ela capaz de resplandecer a vida

Dos que já não se consideram

Vivos nesse mundo obscuro e letárgico?

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 08/11/2016
Reeditado em 10/04/2020
Código do texto: T5816944
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.