DREAMLAND
Por um caminho solitário e obscuro,
Assombrado por um anjo impuro,
Onde um Eidolon chamado NOITE ETERNA,
Em seu trono escuro, incólume, governa.
Naquelas terras, tão breve vislumbrei além
Da indomável Thule — terra de ninguém —
De clima estranho, selvagem, a espraiar no campo...
... Além do ESPAÇO — Além do TEMPO!
Vales abissais e dilúvios babilônicos
E abismos, e cavernas, e bosques titânicos,
Cujas formas homem algum terá como arte!
Pelas lágrimas que gotejam por toda parte;
Onde as montanhas afundam eternamente
Para os mares bravios, sem continente;
Mares de voragens uivantes,
Que se ascende até os céus flamejantes!
Lagos que ao infinito transporta
Suas águas solitárias — solitária e morta, —
Suas águas estagnadas — estagnada e enregelam
Com a neve que nos lírios flamulam.
Pelos lagos que assim transporta
Suas águas solitárias, solitária e morta, —
Suas águas tristes, tristes e enregelam
Com a neve que nos lírios flamulam.
Pelas montanhas — próximas aos rios
Sussurrando fraco, sussurrando gritos, —
Pelas Árvores Cinzas, — pelo pântano afora
Onde o sapo e a salamandra coaxa nest’hora, —
Pelos abutres que rodeiam grasnando
Para onde os Ghouls devoram, profanando, —
Por cada ponto mais amaldiçoado —
Em cada recanto mais abandonado, —
Lá, o viajante encontra, horrorizado,
Todas as memórias do passado —
Envolto em formas que acendem e desaparecem
Embora os viajantes, entre eles passem —
Vestidos de branco como amigos esquecidos
Na Terra e no Paraíso, — eternamente banidos.
Para os corações cujas desgraças são uma legião
Esta é uma pacífica e tranquila região —
Onde espreita o espírito assombrado
Este — oh, Este é o Eldorado!
Mas o viajante que através dele vangloria,
Não pode jamais testemunhar a sua glória;
Nunca mais os mistérios serão revelados
Aos fracos olhos humanos maravilhados;
Assim decretou o Rei em sua proibição
E ergueu o pórtico de sua guarnição;
Desde então, as almas que vagueiam ao redor
Contemplam através dos vitrais sem calor.
Por um caminho solitário e obscuro,
Assombrado por um anjo impuro,
Onde um Eidolon chamado NOITE ETERNA,
Em seu trono escuro, incólume, governa.
Eu caminhei para o lar, mas foi por um instante
Dessa indomável Thule, um mundo distante.
~
Tradução de Bruno Magalhães Vianna (2016) do poema original em inglês intitulado DREAMLAND de Edgar Allan Poe.