O Teatro Diário
Desista da cena de sacada,
Tentar se jogar não é certeza,
Jogue a verdadeira jogada,
A morte é sutil na aspereza.
Seus passos não são certos,
Cabe a ti saber o momento,
Não se prenda aos desertos,
A tristeza não serve de alento.
Quando quiser assim pular,
Para cada loucura há pena,
Um inferno fiel e particular,
E irão mostrar a mesma cena.
Engatinha-se durante meses,
Cai-se de vez em quando,
Caminha-se durante vezes,
E dorme-se sempre esperando.
O choro precede a sua fala,
O riso precede a gargalhada,
O mal precede a rispidez que cala,
O ódio pauta a última facada.
Encadeia-se durante meses,
Entende-se de vez em quando,
Levanta-se durante vezes,
E espera-se sempre dormitando.
A cada louco no seu pular,
A cada melindre com sua pena,
A cada rito, finito e particular,
A cada deboche para cada cena.
Seus atos não são certos,
E esse não é o momento,
Não se rebente nos desertos,
A dor não serve de alento.
Portanto, espere na sacada,
Imaginar o bem é certeza,
Que essa foi a grande jogada,
Quem joga ignora a aspereza.