O Dom
Que uma coisa fique clara nesta vida:
Os deuses, quais não nomeio por respeito,
Quais são muitos cada qual com jeito,
Destinaram graça diante desta corrida,
Independente de credos ou livros sagrados
Não houve uma melhor forma de aparecer
Aos olhos que se cegam em não comparecer
Posto que muitos se ressentem desfilhados.
Sábios cingem em seus escritos rebuscados
Plenamente adictos pela própria maestria
Sabem que há certos mortais assinalados
Nas estrelas, que desafiarão toda a natureza
De si e do que o circunda, posto que certeza
Só se conhece pela vida e a morte sua estria
Emudecem-se ao ver o interessante infinito
Por gênios e loucos, através de suas agonias.
Estes bebedouros esgotáveis de conhecimento
Com tempo destinado em viver de manuscritos
Vivem símbolos, marcas, músicas e gritos
Tornando válida a lida abaixo do firmamento
Eles que atropelam reinos, governos e dinastias
Criam relíquias nos cérebros em desarmonias
E o resultado bestial da psiquê manipulada
É desaperceber a ironia que no todo é criada!
O vértice da existência suspende o tribal acaso
Um vórtice repreende a simplicidade dos seres
Faz o brilhantismo celeste do humanismo raso
Deságua em tomos impávidos das enciclopédias
Entre os séculos que crepitam a historicidade
Dialogando entre mundiais dramas e comédias
A persistência, ainda que rara, de espaireceres
Em relembrar que o divino existe de verdade.
Mas sou suspeito em declinar a cor deste som
Que frequentemente é visto como um anátema
A sombra é uma, a luz é outra - sem convergir
Simplesmente é algo que não respira explicação
É um milagre desenhado de virtude no sistema
Ainda que nunca será visto unânime ao emergir
O simples fato é saber: está além da imaginação
A trivialidade de reconhecer a benção do dom.