Ode ao Corvo

Ode ao Corvo

Ao mestre Edgar Allan Poe

"Ó Senhor Mistério que comigo agora estás,

Levanta-te desta poltrona, amigo,

Nunca, jamais, te esqueças do que digo,

Oculta de minha mente meus sonhos infernais,

Nunca me faças padecer na dor, de ter

Aqui comigo, esses tormentos tais...

Olhes ao fundo da taça que te ofereço,

Bebas, pois este é o sangue dos imortais,

É chegada a hora de inundar a garganta e,

Lubrificar estas cordas vocais

Para o canto do ilustre corvo de Poe...

És tu, amigo, este pássaro que choras

Nos espaços dos meus umbrais,

Pela musa Lenora que se foi...

Conheço a tua saudade esmagadora,

Já me perdi na vida de aventuras,

Fui ferido pela musa da Ternura,

Cantei somente uma vez e nada mais...

Olhes atentamente o retrato que te incomoda...

Vês nele as minhas digitais?

Pois bem! Estimado companheiro,

Já amei o teu amor, não amo mais...

Este coração que guardo no peito

Foi tomado por forças tais,

De um escorpião de tamanho feito

Que me enlaçou de tal jeito

Fazendo-me um dos seus amores mortais...

Minha alma, hoje, clama a força,

Ó ave feia e escura que aqui estás,

Tu, somente tu criatura noturna,

Ouviste este canto desabafo declarante.

Costure neste bico a tua língua delirante

Para que a tua voz nunca mais,

Ouse explanar essas fraquezas fatais...

Entreguei-me a filha de Novembro,

Àquela bela cujos cachos negros,

Enfatizei, nos meus sonhos perfeitos,

Deixando-me domar pelos desejos materiais!...

Ó pássaro das escuras

A lucidez está a me esperar...

Adeus senhor das plumas,

Espero ver-te nunca mais.

Por Carlos Conrado

Extraído do livro Poesia Condenada - 2006.

Carlos Conrado
Enviado por Carlos Conrado em 26/05/2016
Código do texto: T5648051
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