KALI 3

KALI 3

Jarros de puro mármore rachados

pingando água trazida

de longe de tão longe

num horizonte

dos sacrilégios de andar

caminhando

provas de “fé conduta”

faziam pequenos desenhos

sobre o chão já úmido

e perverso

havia um terço rústico

despedaçado

onde a cruz jazia

parte balançava ao vento

da janela aberta

sobre um dos candelabros

acesos

de uma das velas queimando

derretendo dançando

de outras caídas

seguradas pelas mãos

de quem parece que dorme

por que está viva

parece sonâmbula

olhando pra cima

oferece um pesadelo de coma

Loma a madre do altar

das amadas de santo

adormecida no banco

perto púlpito

parecia querer alcançar

o que não podia ver

o sono das imensas teias

de aranha tramavam

um pesadelo vivo

ela estava frente ao redentor

de todas as mazelas

o “prometeu” vingado

por amaldiçoar querelas

dos mestres hebreus do oriente

olhava para baixo

“sofrendo da pena”

dos inocentes por ele

feitos destino

erguia enraivecida

sem falar nada

uma criança nascida

das desgraças

unida sangrando

não chorava

o rosto brando

sereno convicto sem medo

enquanto ela desviava

o olhar dos culpados

que olham para baixo

querendo ver outro caminho

querendo entregar este destino

pra ser salvo

aquele olhar calmo

preto escurecido

da infância recém vinda

tocava a estátua sorrindo

sua tez de pedra esculpida

na forma do homem sofrido

caia pedaços ao chão

o coração da mulher presa

ao sofrimento tardio

desespero de pulsos

fraquejando

ficando leves demais

cordão rasgado do ventre

tornava tudo insano

profano absurdo

um instante mudo parado...

...a fome de fé não acreditava

no que via

ela deitada ao frio insólito

tremia pela verdade sagrada

que em cima dela caia

era uma menina sobre o topo

da cruz

pequena mão dois dedos

levantados

abria-se a porta no saguão

podem ir devem ir

ainda não estão em casa...

...d’onde vinha tal eco

num hino metálico

lábios alegres

áurea iluminada

os inquietos corpos

vagando em marcha

por sombra p’ra fora

onde o que espera

parece fogo.

MUSICA DE LEITURA: SQÜRL - The taste of blood