Memento Mori
I
Sinos duma velha igreja solitária
Vibram em notas lentas, chorosas,
Que ecoam preludiando
O murchar das rosas...
Era noite mais negra que de costume.
Sussurravam macabra canção
Os corvos que voejavam
Pela escuridão.
Confusos, evocando, soturnamente
A dama dos escuros cabelos
Que vagava pelos túmulos,
Sorrindo ao revê-los.
II
Ela sorria, mas de melancolia...
Os seus olhos pretos eram cândidos
E diziam mais que mil
Poemas românticos.
Em seu rosto o brilho da lua gelada
Dissipava as ilusões humanas;
Pouco a pouco emergiam
As verdades profanas...
Suas madeixas eram mares sombrios
Que pela meia-noite corriam,
Trazendo as pungidas almas
Dos que então partiam...
III
...Distante, um jovem que adoecera,
Delirava, em condição febril;
Foi quando, misteriosa,
A moça surgiu.
O rapaz afogado em dor, observava,
Assustado, a lânguida mulher;
Porém, sem ousar dizer
Palavra sequer.
"Não temas minha face pálida e triste",
disse ela. "Hoje é teu dia de sorte.
Se queres saber quem sou:
Prazer; sou a Morte!"