A Hora da Morte

Nascemos todos os dias

Respirando o ar longevo

Morremos todos os dias

Eis o ato que vos descrevo

Criadouro de noites frias

Bem além do tempo medievo.

Até que um dia acontece

Surge o orbe da desgraça

É que na magnífica graça

Organismo, por fim, perece

Com a similaridade da traça

Humano que logo se esquece.

Desconfio que se percebe

A morte num olhar alheio

Afia-se no ar que concebe

Sente-se um mar de enleio

Energia com virtú da plebe

Desespero reduzido a receio.

Na percepção dos animais

Ativam o alto da comoção

O perecer dos seres mortais

Um mal diante da devoção

Solidão vista pelas orbitais

E parafraseada pelo coração.

A percepção dos seus iguais

Realidade conduzida de pena

Os olhares funestos e usuais

Da benção que nos condena

Paradoxo dos passos finais

A contemplação que engrena.

Esteja perfeito ou decrépito

A hora avizinha-se contente

Mesmo no motivo incógnito

A morte sempre intermitente

Levando a alma até o infinito

Memória do que já foi presente.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 04/04/2016
Código do texto: T5595132
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