A Hora da Morte
Nascemos todos os dias
Respirando o ar longevo
Morremos todos os dias
Eis o ato que vos descrevo
Criadouro de noites frias
Bem além do tempo medievo.
Até que um dia acontece
Surge o orbe da desgraça
É que na magnífica graça
Organismo, por fim, perece
Com a similaridade da traça
Humano que logo se esquece.
Desconfio que se percebe
A morte num olhar alheio
Afia-se no ar que concebe
Sente-se um mar de enleio
Energia com virtú da plebe
Desespero reduzido a receio.
Na percepção dos animais
Ativam o alto da comoção
O perecer dos seres mortais
Um mal diante da devoção
Solidão vista pelas orbitais
E parafraseada pelo coração.
A percepção dos seus iguais
Realidade conduzida de pena
Os olhares funestos e usuais
Da benção que nos condena
Paradoxo dos passos finais
A contemplação que engrena.
Esteja perfeito ou decrépito
A hora avizinha-se contente
Mesmo no motivo incógnito
A morte sempre intermitente
Levando a alma até o infinito
Memória do que já foi presente.