Ode a Lautreamont

Se Isidore Ducasse

Distante do seu Uruguai

Em tempo real educasse

Não seríamos tão próximos

Talvez distantes

Pelos tempos e oceanos

Que nos atravessaram.

Que seja feito lobo

Na falibilidade humana

Essa metáfora ufana

Todos que se devoram

Com argúcia míope

Desta fome etíope

Na equilátera maldade

A densa unção da carne

Aliada aos vermes que somos

No parecer de simbiose demoníaca.

Somos um prisma dos medos

Que temos (também os causamos)

Não é à toa os extremos

Estão tão perto da alma

E desta carne enferrujada

A convalescer os vermes

Que tentam reconstruir o solo.

Somos o absoluto absurdo

Isentos de humanidade

Entre a primitiva realidade

De ser fera e ser ferida

A loucura se faz cumprida

No comprimento das bestialidades

Eu que celebro a vida

Adoro a distinção da morte

O descaminho alegórico

Do torpor eufórico

De quem não deve existir.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 23/03/2016
Código do texto: T5582236
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