Ode a Lautreamont
Se Isidore Ducasse
Distante do seu Uruguai
Em tempo real educasse
Não seríamos tão próximos
Talvez distantes
Pelos tempos e oceanos
Que nos atravessaram.
Que seja feito lobo
Na falibilidade humana
Essa metáfora ufana
Todos que se devoram
Com argúcia míope
Desta fome etíope
Na equilátera maldade
A densa unção da carne
Aliada aos vermes que somos
No parecer de simbiose demoníaca.
Somos um prisma dos medos
Que temos (também os causamos)
Não é à toa os extremos
Estão tão perto da alma
E desta carne enferrujada
A convalescer os vermes
Que tentam reconstruir o solo.
Somos o absoluto absurdo
Isentos de humanidade
Entre a primitiva realidade
De ser fera e ser ferida
A loucura se faz cumprida
No comprimento das bestialidades
Eu que celebro a vida
Adoro a distinção da morte
O descaminho alegórico
Do torpor eufórico
De quem não deve existir.