Em Memória à Mulher que eu Era
Em memória à mulher que eu era
Escrevo estes versos
Por uma mulher que amava a vida e viveu o amor
E hoje passa letárgica pelos cantos da existência
Temerosa da vida, desprezando o amor
Escrevo estes versos
Por uma alma condenada por um amor obscuro
A abdicar de tudo de si
Do coração congelado às entranhas que podiam gerar vida
Fiz massa disforme e num abismo qualquer atirei
Hoje passo pela vida em niilista altivez
Nada me atinge
Nem o que me sente nem o que sente por mim
A mulher que eu era
Tinha sangue quente correndo nas veias
E aquecia corações com as palavras que cantava
Matei-a, cravei-lhe um punhal no peito
Quando por infames motivos aceitei a mordida do Diabo
Matei-a, sim, eu, a culpada
A vampira que hoje só tem calor no sangue roubado
O monstro que sou
Ainda que sedutor, não é mais mulher
Mesmo que beba teu corpo inteiro com lábios famintos
Nada sentirá, nem por si mesma nem por ti
Guarda os sonhos da mulher que era num baú
Mas em sua sanguinolência não mais sabe acessá-lo
O fim veio muito tempo atrás
O que restou é maldição, e não satisfaz
Guarda estes versos
Não por mim, que não mereço
Passa inverno e vem verão, mas não floresço
Abri mão de mim
Meu segredo e meu motivo morreram comigo
Guarda estes versos, te peço
Em memória à mulher que eu era