Os zumbis
Ao cemitério,
Cortai, nas tripas viscerais da carne;
Eu ouço a escuridão da morte ingrata
Que em vós, ainda comeis as sânies fartas!...
Co´o langor da saliva mortalíssima,
Cala-te, em teu carpir que achas as carnes,
Que no desejo, horrorizai co´os lados!
Alimentai-nas, com porção pesada,
Cruzes d´ouro, castelo, vontade, olhos
E túmulos, é o Vermis de uma boca!
Que o engoles, mas irás alimentá-lo.
Sentimentos sombrios, sacudidos,
Das sombras só silentes, sonolentas,
Ao olhá-las com céu bem assombrado.
Que as catedrais do Notre Dame assombram
Raias! Assombras! És zumbi! Que horror!
Olha-me, a palidez que te dará,
Queres morder esse coveiro, assim?!
Ai, com certeza, é a caridade feia,
Quando a noite encantar e escurecer,
Co´as almas fúnebres do cemitério.
Deu-me o pavor, a assombração e o medo;
Lembraste-me deveras, foste ingrato,
Quem já me devoraste, em ossos sujos;
Quanto lodo, só queres loucamente.
Luar! Luar! Como me assusta o que eu mais temo!
Arfarei, uma pena é bem dramática...
Lágrima decomposta é que se sangra,
Funesta... É o sangue da fatalidade!
Álvares de Azevedo também chora...
A morte nos importa, então mais cedo;
Sangro no cróton da putrefação,
Co´uma terrível avidez do corpo.
Com que as larvas me engulam em consumo,
Na cova do sepulcro e na mandíbula,
Transformo-me o zumbi que eu sempre fedo
Cada um nojo, lamento provocá-lo.
Deste-me a lama, na sanguinolência,
Ela - as más e primevas amarguras
Ao engolir co´uma delícia tépida,
Morto-vivo, pretendes decompor-te;
Teus olhares sagazes que me assustam
Miserados, em ti... A afã perversa
De salivar a maldizer que sujas,
Íncola miserável é que embala
E apenas te revela com temor,
É o cemitério! É o coração! Levanta-te!
Olhos crus que tu tens, funebremente,
Coze-os com gosto e ardil à fome amena,
Louco que és sempre, na porção humana;
Ó azo feioso do canibalismo...
Oxalá que o desejes pela dor,
Zumbis... Todos os males que me atacam,
Gostai de alimentar os gostos sujos!
Lucas Munhoz
(25/01/2016)