Súplica Mortal

Universo cruel! Se me queres matar

Mata-me de uma vez!

Crava teu punhal sombrio em meu peito

Pois não aguento mais essa agonia

Não aguento mais ir morrendo devagar

Secou meu coração amante

Murchou minha mente pulsante

Voraz me consome a letargia

Sou maldição, não me cabe a alegria

Fantasma dos meus dias de beleza

Afasta-te de mim neste instante

A morte apossou-se de minha natureza

E só quero te ver vagar errante

Minhas palavras são vãs

E teus ecos não me comovem

Não mais vou beijar teus lábios

Nem mesmo para calá-los dos discursos insanos

Não vou mais salvar tua pele pálida

Nem mesmo se as serpentes dela fizerem banquete

Hoje prefiro beijar uma serpente de falsidade escancarada

Que passar os lábios por tuas mentiras sutis

Dou meu corpo, mantenho o coração

E a ti, fantasma, não dou mais nada

Se me queres confundir outra vez com palavras

Estarei surda aos teus apelos afetados

Na cama daquele a quem desprezas

Universo cruel, mata-me por favor!

Não mais posso suportar do meu coração o furor

Amei um anjo caído, e então beijei o demônio

Perdi meu coração destruído, e da letargia me fiz amante

Dá-me minha sentença, condena meu ser pecador

Choro por tudo que vivi

Mas não posso mais continuar

Choro por tudo que ainda me falta

Mas só o fim me pode acalmar

Choro porque poderia ser mais

Se não me houvesse deixado queimar

Choro porque para arrependimentos é tarde

E a Morte veio enfim me buscar