O crânio

Talvez eu possa estar no lado edgariano

Que queiras assistir aos crânios funerais,

Oriundos e maus, em cantares centrais,

Subestimo-me o choro áspero e craniano.

Tua palidez macabra

Com o teu luzir do encanto,

Que evisceras tanto, tanto...

Antes que a mandíbula abra,

Em caixões das cruzes negras,

Morbidez, enterro, regras

E maldade como o canto.

Quem te assusta, é o louco olhar?!

Olha-o em ânsia, com que chores

Todo o olhar, esquece as dores

Quando queres ver e arfar

Pelas doces falas, cabes

Esses ossos, com que acabes

De chorar os teus palores.

Fúnebre, ias fugir à forma do castelo,

Se tremesses a noite assombrada por fora,

Quem tremias demais no langor, mas agora...

Que ele ainda se transforma o osso atroz e singelo.

Deste-me o horror incluso, o crânio que assustava

Igual a um monstro mau, com as carnes sangrentas,

Ouvias certamente, as viagens pedrentas

Que seriam mortais entre a passagem brava.

Em que a lúgubre dor se fracassa com grito,

Talvez bebas a taça assombrosa do sangue

Que o vinho perfumoso ainda encante e te zangue,

Teu rosto do furor sangrentamente aflito.

Dá-me o peito noturno e hás de levar-me mesmo,

Ó luar encantado! Ó letreiros brilhantes!

Que é um túmulo da carne funesta do que antes,

Como o cantar do mal e a perversão ao esmo.

Que és funesto e craniano,

És um osso vil que me olhas

Em fulgor vermelho e escolhas!

Quantas tripas do teu plano...

Que nem Bram Stoker escuta

Uma escuridão da luta,

Cai na veia vil que molhas.

Vejo-te estripado e triste

Na cova adorável, certo...

Tu, um crânio, estás bem perto,

Sabes que a tristeza existe.

Com certeza, escutas tudo,

Já serás sangrento e mudo!

Nunca sei se és meio incerto.

Olho as luzes da cruz que eu desejo os lugares,

Com uns oiros do brilho, é que doiras por elas,

Contudo, a assombração das cruzes tão singelas

Que te escurece assim para olhares e achares.

Acorda, um monstro branco, abranges loucamente

Com um luzir doirado, ainda estás luzidio,

Já corro, além do medo absurdo, encontro o rio

Quem eu tento fugir tanto, absolutamente.

Mas lembro-me o lugar funeral do esqueleto

Quando jamais me assusta até que haja sorriso,

Adoro-o puramente enquanto encontra o riso

Sem medo, é o doce horror, no olhar maldito e preto.

* Edgariano - Egdar Allan Poe, um poeta e contista americano - (1809 - 1849) que também escreve os poemas e os contos góticos.

*Bram Stoker - um poeta, contista e romancista irlandês, que já escreveu uma peça mais importante, como o romance gótico Conde Drácula, um vampiro (1847 - 1912)

Lucas Munhoz - (07/12/2015)

Lucasmunhoz
Enviado por Lucasmunhoz em 08/12/2015
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