A amada treva

É a noite que escurece lentamente,

Mas o melhor horror há de assustar

Co´as tripas do cadáver que inda sente,

Em um lodo da boca sem arfar.

A morte nos encanta igual a treva,

Com que queiras morrer como o defunto,

Um fedor impudico sempre ceva

Que apenas horroriza sem conjunto.

Queres ver os defuntos mais famintos

Que eles comem a carne humana e os olhos,

Numa necrofagia dos instintos,

Olha-me inteiramente em ascos molhos.

Que em ti hás de adorar o cemitério

Co´os queridos fantasmas de uma paz

E a maior amizade, no mistério!

Quem o grito fortíssimo nos traz.

Certo, em mundo escuríssimo e zumbis

Dos vômitos mordazes que eles choram...

Os sentimentos álgidos e vis

Que agora desconhecem e não coram.

Sê funesto, sem pressa, estás em cova,

Ouve o mocho do mal meio perverso...

Canta a noite que a lua chora e prova,

Sinto o teu sepulcrário do alto verso.

Na bestialidade dos enterros,

Esses corpos necrófagos das dores

Que sangram puramente, com que chores!...

Jazem em paz, querido, além dos erros.

Lucas Munhoz - (27/10/2015)

Lucasmunhoz
Enviado por Lucasmunhoz em 27/10/2015
Reeditado em 27/10/2015
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