A profecia do corvo
Nos horizontes turvos e irreais
reside a brasa insignificante
que arde absconsa neste atordoante
mundo de dores surdas e abismais.
Não canto o que a Quimera quer que eu cante,
não glorifico o amor de um torpe amante,
mas me atenho à vida. Ó, coisas reais!
Só que a vida é cruel e dói demais;
e aquela brasa faz-se flamejante
dentro em meu peito e, neste breve instante,
me entrego à chama, à luz dos ideais:
busco o impossível. Ah, ingênuo infante!...
Por fim, encontro só a voz arfante
do corvo a grasnar: "Nunca, nunca mais!"