Canção fúnebre
Ó Lua escura, horrorosa...
Quem dera amar o esqueleto
Da cova negra e maldosa,
Sentir o verme do afeto.
Eu - um vampiro maldito
E puro como o mancebo,
Mas sugo a víscera e fito
O sangue lúgubre e o sebo.
O amor satânico e ledo,
Que os vermes sujos e amáveis
Se beijam tudo em segredo,
Ó gostos ascos, notáveis!
Se amares tanto o mistério
Ou inda fores medroso?!
Degusta o vil cemitério!
Que é muito belo e amoroso.
Que tens palor e és senhor?
És duro, escuro e antropófago,
Revês a treva e o labor,
O fosso feio e necrófago...
As asas negras e puras!
Por isso eu quero voar
Em linda noite, inda juras?
Prefiro entrar no mau lar.
Amaste a morte perversa
E olhaste o túmulo e o lodo.
Ó cruz terrível, inversa...
Eu sinto a carne asca e rodo.
A larva suja e sangrenta,
Mas vejo o falso pescoço
Que a boca dela ensanguenta!...
Além das larvas no poço.
Lucas Munhoz - (07/10/2015)