Queria eu fazer da noite
Meu parque de diversões
Meu palanque político
Meu púlpito sagrado

Queria eu fazer pra noite
Minha declaração de amor
Declamar meu poema mais profundo
Dedilhar minha canção mais inebriante

Mas a noite me vomitou
Pelas calçadas frias da avenida
Mas a noite me defecou
Pelas sarjetas gélidas da vida

Queria eu beijar a noite
Com o mel límpido da minha boca
Mas a noite é uma mulher louca
Que virilmente me violenta

Queria eu abraçar a noite
Com esse desejo que me abrasa
Perdi carro, perdi casa
E a noite ainda me roubou a alma

Então fiquei sem nada
Uma mão na frente, outra mão atrás
Então fiquei sem asas
E nem sandálias para voltar atrás

E agora chega a aurora
E me revela toda minha nudez
Em busca de um mistério
Encontrei escassez
E miséria
E enfim
Morte
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 20/08/2015
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