A catedral da Norte-Dame
I
À Maria Madalena falecida,
O altar do sangue funerário e morto
No novo túmulo da vil Senhora,
Na multidão e no maior conforto,
Que a gente adora eternamente e chora.
Corpo funesto, esqueletal e imundo
Com dor sangrenta, decomposta e ardente...
Assisto o enterro inda sangrado em fundo
Para as sujeiras viscerais do dente.
Aquelas gárgulas do olhar sangrento,
Ó mal augusto dos sorrisos vis!
Agora a noite singular e o vento,
És uma gárgula malvada e ris.
Depois o nível intermédio e a cova
Pela matança do manjar de aranha,
Que o aranha come esse defunto e prova
Tanto apetite canibal e banha...
Ó noite escura, satanista e brava!
Com hipnose entre as queridas aves
Dentre a cloaca tabernal que crava
No fogo lúgubre, depois que laves.
Ali na cova da Maria morta,
Ó rubro crânio das minhocas feias
Que elas almoçam a porção na porta
À carne hidrópica dos rins e às ceias.
Como a Maria transformada e inerme,
És a vampira violenta e bruta
Com este corpo decomposto ao verme,
Sangue pingado e visceral que amputa.
Teus seios pútridos, mortais e feios...
Sentiste a dor apodrecida e o grito,
Joelho podre, hidropisia e anseios
Ao choro triste da Cristã que eu cito...
Ah que uma cova do luzir em alma,
Ó violência, queimadura e queda!
Que ela apodrece a podridão e acalma
Na carne podre, sanguinária e azeda.
Batendo o sino barulhento e grande,
Que vens à cima do caminho e corres!
Depois que a gárgula te explique e mande
Para a distância dos queridos torres.
Ó dramatismo tenebroso e triste!
Mas é sofrível na altivez do peito,
Que o osso mortal e violento existe...
Sem sentimento de um amor perfeito.
Ao decompor-se a hediondez ardida
E o horror fedido, putrefeito e espesso,
A catedral é a morbidez da vida
Com maravilha, arquitetura e gesso...
O povo chora puramente e guarda
No coração da Madalena amada,
Que acolha a mão violentada e parda...
Santa defunta e canibal do nada.
Autor: Lucas Munhoz - (12/08/2015)