O que me engole ...
[...]
chorei ao sentir a dor nas palavras
_ das que vazam sem trajetória
_ das que pulsam com a escória
senti repulsa. (...) senti revolta.
Mas gosto das coisas que me tocam
e do arrepio que me distende e até me sufoca
... então que essa dor seja eterna
e que dos meus olhos jamais sequem as lágrimas
... e que nada seja modesto
que as palavras sejam derradeiras
- que me apunhalem vez em quando
- que me apedrejem vez em tanto
- que sorva o mel que ainda invento
... pois a minha língua anda casta
às palavras tão incrédulas/
à minha própria sordidez/
autora desnaturada e mãe pária
dessa minha estupidez ...
(o que me engole...)
e vez em quando regurgito .
FAGNER - NOTURNO