Um fio trêmulo
Paro na frente do espelho
E sinto como se parte da minha alma estivesse quebrada
Sou uma caixinha de música
Que não serve ao seu propósito
Estou sangrando, perdida numa trilha de vidro
Em meus olhos, medo
Em minhas mãos, sangue
Em minha boca, vinho
Em minha alma, transe
Num labirinto de trevas onde brotam margaridas negras,
O som da lira inunda minha mente de agonia
Fui assombrada por um suspiro,
Caçada pelo momento
Não há fio de Ariadne, nem pedras coloridas
Não há caminho de volta no tempo
Respiro o perfume do lírio do campo
Como se nada pudesse me encantar mais
É como uma droga,
Ou pior, um veneno
Que me faz sangrar pelos olhos
Que me entorpece e, ácido,
Me mata de dentro pra fora
Daí vem a mim o desejo de cair
De me jogar ao vento, ao abraço da terra que me acolherá
Quero derramar minhas lágrimas sozinha
Sem que ninguém chore sobre meu corpo gelado
Para que eu possa me esvair em paz
Então eu me lanço sobre o vazio
Nos profundos momentos de desespero
Meus olhos me iludem, macabros
Me mostram imagens bonitas
Enquanto meus ossos se partem
Até que a mente não encontre os sentidos
Enquanto a alma exala o cheiro da morte
A esperança que resta não basta
Liga-se a mim por um fio trêmulo
Que assim como a minha vida,
A qualquer momento,
Irá se romper em silêncio