CONVULSÕES

Fortes ventos.

A noite parece funesta,

Vejo micro-organismos em festa

Tripudiando sobre meu catre.

Escuto bisonha gargalhada,

São fantasmas que anunciam

O verdor macrobiótico

Da indulgente madrugada...

Fecho os olhos.

Assisto à escuridão que treme

Perante o assobio da mortalha

Que rasga no espaço, as estrelas...

Meu pensamento é diáfano,

Verto medo na solidão...

Murmúrios macabros

Invadem a consciência aflita...

Levito o olhar sobre o teto,

Vultos apócrifos desconexos

Dançam músicas fúnebres

Sobre uma lápide imaginária...

Tento gritar... Esforço-me,

Mas o grito fenece na garganta,

E um pavor atônito se agiganta

Deixando-me tétrico e ressabiado...

Cutuco-me. Estou vivo e aceso,

Taquicardia inunda o quarto obeso,

Consigo soletrar nomes avulsos,

E cogitar preces num só impulso.

Sinto-me invadido pela depressão

De um estuário de faces febris

Que singram orvalhos pueris

Do amálgama que é o coração...

Finalmente a noite se abre e

O dia raia sobre nuvens burlescas...

Trago flores bastante frescas

Do pesadelo que foi conclave...

No sol percebo a magia do viver,

O calor que arrebenta a nostalgia

Da noite consumida pela fantasia

De sonhos castrados ao amanhecer!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 21/02/2015
Reeditado em 21/02/2015
Código do texto: T5144583
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