''O corte''
''O CORTE''
A banheira transbordante
O sabor de minha febre
A água se esfrega na alma
Na obsessão de torná-la pura
Limpa!
O líquido ardoroso de Baco
repousava em minha mão
E como um cálice
O levei à boca
Me deleitando em seu veneno
A navalha na outra palma
Desejava conhecer o profundo
No primeiro corte
lembro de ver o espião
Andando na estrada
Não havia mapas
A linha do desatino o conduzia
A estrada deserta
Pintada em branco e preto
O corredor
sem saída!
Caminhei perseguindo o vulto
Milhas infindas
Calafrios invadiam as têmporas
A insanidade me libertava
O pulso jorrava sangue
A artéria perfeita
A imensidão da angústia
O espião segurou-me
Empurrava-me na distorção
Figuras estranhas
A estrada tomava cor
O vermelho se esparramava
Meu profeta havia se esvaído
Vinho e navalha
Companheiros de jornada
A febre se apressava
Meus olhos cegos
e o abandono
Logrei o presente pragmático
O estranho desfalecido
O lírio jogado na estrada de qualquer um.
By Morphine Epiphany
(Cristiane V. de Farias)