Um copo e meio de fel...

Certo dia encostei a mobília,

retirei os carpetes, abri as gavetas,

e me vi numa fria ilha... Rodeado de saudades.

Então, senti o pó cobrir a pele

e provocar me engasgo e tédio,

um mar nostálgico engoliu meus passos.

As paredes comprimiam minhas tantas vidas,

minhas tantas faces, meus "fatos" se tantos,

entretanto, me joguei de joelhos,

assumindo meus erros, meus falsos conceitos

e embora sem espantos, sem espelhos,

reuni cacos, retratos amargos, dias perdidos!

Atirei-me ao marasmo da fronha molhada,

do lençol abatido pelas intempéries que me doem!

A alma sofrega e o corpo moribundo,

o tempo "Senhor" e carrasco de mim...

As vezes reajo; noutras emudeço,

e finjo, e resmungo, e soluço meu fardo.

Acordei abatido, transitório!

Burlei com ácido meu humor,

chutei as havaianas e dormitei no piso frio;

friamente rabisquei um sorriso,

tracei um rosto qualquer no chão mal lavado...

Certo dia, dei passagem

e segui pela vida sem olhar para os lados.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 08/11/2014
Código do texto: T5028071
Classificação de conteúdo: seguro