Um copo e meio de fel...
Certo dia encostei a mobília,
retirei os carpetes, abri as gavetas,
e me vi numa fria ilha... Rodeado de saudades.
Então, senti o pó cobrir a pele
e provocar me engasgo e tédio,
um mar nostálgico engoliu meus passos.
As paredes comprimiam minhas tantas vidas,
minhas tantas faces, meus "fatos" se tantos,
entretanto, me joguei de joelhos,
assumindo meus erros, meus falsos conceitos
e embora sem espantos, sem espelhos,
reuni cacos, retratos amargos, dias perdidos!
Atirei-me ao marasmo da fronha molhada,
do lençol abatido pelas intempéries que me doem!
A alma sofrega e o corpo moribundo,
o tempo "Senhor" e carrasco de mim...
As vezes reajo; noutras emudeço,
e finjo, e resmungo, e soluço meu fardo.
Acordei abatido, transitório!
Burlei com ácido meu humor,
chutei as havaianas e dormitei no piso frio;
friamente rabisquei um sorriso,
tracei um rosto qualquer no chão mal lavado...
Certo dia, dei passagem
e segui pela vida sem olhar para os lados.