AMOR SATÍRICO

Gostavas de tragar o universo inteiro,

Mulher impura e cruel!

(Charles Baudelaire)

Morte e solidão

I

_ Que lindo o mundo é

Quando pincelado pelo amor!

A vida é mesmo surpreendente,

Mesmo para quem não tem fé.

Saiba que o amor é o louvor

Supremo que o destino tece

Na mente dos mancebos

Incrédulos e depressivos!

Já visitei, quando fevereiro,

Um jovem ao qual me admirava,

Sua face era tão pálida

Qual uma vela de velório...

Sempre vestido com trajes negros

(que desespero!)

Até parecia adivinhar que o luto passageiro

Acolheria sua família

Naquele mesmo mês traiçoeiro!

Era um dia tempestuoso,

Daqueles de floresta temperada!

Nas ruas os moleques se divertiam com aquilo,

(Imitavam os demônios

Que riem da desgraça dos moribundos!)

Ao chegar ao quarto

Fui surpreendido pela presença fúnebre

Que aromatizava o lugar com seu perfume!

Aquela paisagem me encantou!

Desde o primeiro instante

Apaixonei-me da visitante

Que junta comigo cantava a ninar o menino.

E, aos pouco, ele ia dormindo em seu leito!

O bálsamo da morte banhava as pálpebras

Do virgem doentio que tanto me amava!

II

_ O que juntas assim procuramos na miséria?

Essa maldição tirada do rio mais imundo.

E a nos banquetear das entranhas dela

Jantamos noites românticas, não somos injustas?!

Temos ainda muitos a quem comparecer,

Esses hereges estão a se multiplicar pelo mundo.

Nascemos para acompanhar as dores dos doentes

Que nos ama nos momentos mais frementes.

Somos, para o maligno, profissionais perfeitas,

A terça parte da terra como nosso território

Semearemos o vício, individualismo e ócio...

Depois, do solo radioativo colheremos os frutos.

E como seremos felizes, oh musa pálida e feridenta,

Quando consumada nossas forças ilusórias,

As quais o homem goza suas mágoas amorosas

E entregam-se à depressão, como a Deus nos adoram!

O sono atroz que em seus peitos guardam,

Quem a poderá botar para fora? Só nós!

As vigilantes das noites soturnas e gloriosas,

Nós!... as cavaleiras do descanso que todos tragam!

III

_ Amante, como, depois de nós, os botões brotarão

Tão languescentes a exalar suas impurezas...

Nesse mundo atacado pelos vendilhões de avareza

Que contaminam nossos fãs com doenças grotescas?

Saberão todos no auge de suas depravações

Como o vício só aumenta depois do primeiro trago

Desfrutado do cachimbo de nossas bocas vis

Que transborda e espuma o veneno parasita.

Sejamos doces à medida que virmos ao acaso

Pequeno esquivo, de raro lugar aparecer;

Sejamos alerta perante o comportamento calmo

De mazelas que se atrofiam ao brilho claro.

Assim, de calma, zelo, paciência e convenção

Aos trabalhos adotados a corromper alma e corpo,

Aos rituais elaborados, aos cultos de adoração

Realizados para nutrir-nos do rancor de negras preces,

Construiremos a estalagem e o reino,

Trataremos de exibir a luxúria que seduz,

Ergueremos a estátua da arte fina que revigora

O impulso de cumprir os deveres prometidos!

Eles são numerosos! Suas faces demonstram

No olhar e nas palavras ímpias e pragmáticas

Que a prosperidade do nosso povo será elevada

E a profanação da castidade excitante!

IV

_ Sempre existirá no campo ou na cidade,

Travando suas lutas pelo ar que definha,

As criaturas que nas cabeças trazem o diadema

Crivado com as palavras da besta futura.

O amor as profecias tecidas ao meio-dia,

Às pragas arrogantes espalhadas ao acaso

Ditam o caminho, os espinhos em suas vidas,

Que brotam iluminados por proscrição e pecado.

Os seus antepassados nas terras infecundas,

Nos sóis cuspidores de radioatividade,

Deixaram as sementes espalhadas ao vento

Para produzir o pão e o vinho encarniçado.

Gritam, meditam, reconhecem o destino!

São cientes da pútrida raça que compõem!

Tentam camuflar nas religiões a maligna fé

De suas mentes, de seu povo transtornado.

Como um gato ferido e os testículos arrancados,

Ao passar pelo telhado gemendo e defecando,

São as suas almas magoadas e em prantos,

E que as santas palavras chamam: INÍQUOS!