Mouro

Esmaeço em poesia sem vida,

Pássaro aziago, homem morto,

Em carne aprisionado

E sou hino de amor torto

Dantes fora eu de muitas almas a luz,

Não nego, fui belo mouro

Hoje, porém, sou apenas ave de mau agouro

E serei julgado por um dia abandonar minha cruz

Efebo púbere, encarcerado em corpo de fêmea sofredora

Sem amor, pobre meretriz,

Reles pecadora,

Da angústia é putrefata imperatriz

Ah, e não há como derramar no papel esse brado de agonia

Perco-me pela areia vivida, passada,

Ave angustiada,

Escoo a dor pela maresia

Homem em corpo de frígida mulher

Pelos meus anteriores pecados, agora sou punido com ausência da paixão

Arrasto-me pelo Vale dos Ventos suplicando por um coração

Doirado, pulsante, como qualquer condenado deseja

Enlameado, partido e renegado,

Vomito sangria de minhas veias esmorecidas,

Morro de banzo, mal-amado

E prossigo com meu canto funesto

As mesmas lâminas enferrujadas

Estilhaçam-me inteiro

No meio desse infindo tiroteio

E a dor me perfura, traquejada

Não há remédio pra um coração amargurado,

É pura imperfeição,

Estira-me ao chão,

Sou só mais um infeliz torturado

Amor, amor,

Cresce nas entranhas,

Rasga interiores, concebe pavores

Ah, amor, falo tanto de ti…

Já amei tanto

E entretanto ainda mal sei amar…

Lolla Fronza
Enviado por Lolla Fronza em 10/06/2014
Código do texto: T4839806
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