Última Balada

"Vegetam louros — na caveira esquálida

E a sepultura se reveste em flores."

(Castro Alves)

Ai! Vegetam amores — em meu peito,

E a face pálida parece morta!

Resvalam mágoas, dores em meu leito,

E a estrada rija já parece torta!

Quanta ventura eu via no futuro...

Porém que hoje já fenecem ao nada;

Como um deserto sepulcral obscuro,

Como emudecer da última balada!

Mergulhado em tristezas e amarguras,

Ouço o ecoar dos rios me dizer:

“Arranca-te rapaz das sepulturas,

A vida é célere p'ra se viver!”

Mas, não te rias de mim voz sombria!

Sei que sofro — sofro de amores cândidos,

E, minh'alma — continua vazia!

Vejo meu reflexo — os dois braços lânguidos,

E os olhos profundos, roxos, caídos...

Fitando a rútila visão do abismo,

E um bando de pássaros deprimidos!

Não podes ser assim tanto cinismo...

— Ó minha pobre sina malfadada!

O que fiz para ser tão triste assim?...

Por que perdi minha musa embalada,

Entre pétalas murchas de jasmim?...

Meus sonhos tornaram-se tais defuntos,

Perdidos, entre as cáries dos conjuntos;

Esmagadas no esquife, murchas flores...

E hoje desagregado desta vida,

Levo dentro d'alma a imagem partida,

E a casta cruz de todos os amores!

Versos decassílabos.

01 de maio de 2014.